quarta-feira, 22 de outubro de 2014

UM POEMA SUTIL: SUICÍDIO NA ACLIMAÇÃO, de Jorge Tufic

SUICÍDIO NA ACLIMAÇÃO


Jorge Tufic



Que nome dar à solidez dos objetos
que te viram partir,
o desespero branco voltado para onde tarde
o socorro da notícia o diminuto eco,
talvez,
de tua morte sequer imaginada?

Resta agora a solidão geométrica
do encarceramento vesperal,
com teus punhos ensanguentados,
a tua boca terrível
gasta e seca.

Pretúmulos edificados na linha dos postes
sacadas vazias, vento morno,
cortinas sem brilho.
Solitários vultos,
lá embaixo,
contemplam o domingo driblado
pelos velozes motoboys
entregadores de pizza.

Extraído de
A INSÔNIA DOS GRILOS
pág. 35 - FORTALEZA - 1998

(Do exemplar que recebi do autor, com dedicatória.)