A MINHA RUA
Mário Quintana
É uma rua em que tenho o vício
De nunca entrar, e onde eu nunca entrei,
E que vai dar na Babilônia, eu sei,
Ou nalgum porto fenício...
Se eu lá entrasse, seria rei,
Ou morreria nalgum suplício...
Crimes que lá cometerei,
Não deixariam nenhum indício...
Lá não se pensa, mas se responde
Conforme as rimas que um doutro dá.
Exemplo: templo. É o templo onde
O senhor padre me casará
Com a linda filha de algum visconde
Ou do Marquês de Maricá!
(Extraído de A VACA E O HIPOGRIFO
Círculo do Livro, São Paulo, Brasil, 1977, pág. 131.