quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

MORREU, EM PORTO ALEGRE, O POETA OLIVEIRA SILVEIRA, UM DOS CRIADORES DO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

- NOTA de Geraldo Reis -

Oliveira da Silveira Morreu em Porto Alegre, quinta feira, dia 1º de janeiro de 2009, aos 67 anos de idade, um dos idealizadores do DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA, o poeta, professor, conferencista, pesquisador e político gaúcho Oliveira Ferreira da Silveira. Integrava o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial. Gaúcho nascido em de Rosário do Sul, em 1941, deixou pelo menos 10 livros publicados, dentre eles Banzo Saudade Negra (1965). Nunca nos vimos pessoalmente e nunca nos falamos. Só agora tomo, infelizmente, contato com a sua poesia que é de qualidade. Fico sabendo pelos jornais que tem pelo menos dez livros publicados, feito memorável nos dias de hoje, quando a poesia é vista com reserva pelas editoras. É desse poeta especial, silenciado para sempre, o poema a seguir, destacado da antologia intitulada De La Poesia Negra nel Modernismo Brasiliano, de Benedita Gouveia Damasceno. Palermo: Ila-Palma, 1988.] Pêlo Escuro (fragmentos) Sou a palavra cacimba pra sede de todo mundo e tenho assim minha alma água limpa e céu no fundo. Meu canto é faca de charque voltada contra o feitor dizendo que minha carne não é de nenhum senhor. Sou quicumbi e moçambique no compasso do tambor. Sou um toque de batuque em casa de gege-nagô. Sou a bombacha de santo, sou o churrasco de Ogum. Entre os filhos desta terra naturalmente sou um. (...) No sul o negro charqueou lavrou carreteou no sul o negro remou teceu o diabo a quatro o negro no sul congou bumbou batucou a negra no sul cozinhou lavou diabo a quatro no sul o negro brigou guerreou se libertou quer dizer: ainda se liberta de mil disfarçadas senzalas prisões diabo a quatro onde tentam mantê-lo agrilhoado (...) Muito obrigado pelo ditado "negro em posição É encrenca no galpão". Obrigado pelo preconceito com que até hoje me aceitas. Muito obrigado pela cor do emprego que não me dás porque sou negro... (...) Um naco de fumo escuro negrinho da tua cor, no monturo Um toco de pito aceso negrinho cor de teu sangue indefeso (...) E peço: clareia o rumo negrinho de teus irmãos cor de fumo. (...) Já fui a palavra canga sou hoje a palavra basta. ---------------------------------------------------------------------- Dele destaca-se. também, do livro ROTEIRO DOS TANTÃS, o poema abaixo: ENCONTREI MINHAS ORIGENS Encontrei minhas origens em velhos arquivos ....... livros encontrei em malditos objetos troncos e grilhetas encontrei minhas origens no leste no mar em imundos tumbeiros encontrei em doces palavras ...... cantos em furiosos tambores ....... ritos encontrei minhas origens na cor de minha pele nos lanhos de minha alma em mim em minha gente escura em meus heróis altivos encontrei encontrei-as enfim me encontrei