Oliveira da Silveira
Morreu em Porto Alegre, quinta feira, dia 1º de janeiro de 2009, aos 67 anos de idade, um dos idealizadores do DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA, o poeta, professor, conferencista, pesquisador e político gaúcho Oliveira Ferreira da Silveira. Integrava o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial. Gaúcho nascido em de Rosário do Sul, em 1941, deixou pelo menos 10 livros publicados, dentre eles Banzo Saudade Negra (1965). Nunca nos vimos pessoalmente e nunca nos falamos. Só agora tomo, infelizmente, contato com a sua poesia que é de qualidade. Fico sabendo pelos jornais que tem pelo menos dez livros publicados, feito memorável nos dias de hoje, quando a poesia é vista com reserva pelas editoras. É desse poeta especial, silenciado para sempre, o poema a seguir, destacado da antologia intitulada
De La Poesia Negra nel Modernismo Brasiliano, de Benedita Gouveia Damasceno.
Palermo: Ila-Palma, 1988.]
Pêlo Escuro
(fragmentos)
Sou a palavra cacimba
pra sede de todo mundo
e tenho assim minha alma
água limpa e céu no fundo.
Meu canto é faca de charque
voltada contra o feitor
dizendo que minha carne
não é de nenhum senhor.
Sou quicumbi e moçambique
no compasso do tambor.
Sou um toque de batuque
em casa de gege-nagô.
Sou a bombacha de santo,
sou o churrasco de Ogum.
Entre os filhos desta terra
naturalmente sou um.
(...)
No sul o negro charqueou
lavrou
carreteou
no sul o negro remou
teceu
o diabo a quatro
o negro no sul congou
bumbou
batucou
a negra no sul cozinhou
lavou
diabo a quatro
no sul o negro brigou
guerreou
se libertou
quer dizer: ainda se liberta
de mil disfarçadas senzalas
prisões
diabo a quatro
onde tentam mantê-lo agrilhoado
(...)
Muito obrigado
pelo ditado
"negro em posição
É encrenca no galpão".
Obrigado pelo preconceito
com que até hoje me aceitas.
Muito obrigado pela cor do emprego
que não me dás porque sou negro...
(...)
Um naco de fumo escuro
negrinho
da tua cor, no monturo
Um toco de pito aceso
negrinho
cor de teu sangue indefeso
(...)
E peço: clareia o rumo
negrinho
de teus irmãos cor de fumo.
(...)
Já fui a palavra canga
sou hoje a palavra basta.
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Dele destaca-se. também, do livro ROTEIRO DOS TANTÃS, o poema abaixo:
ENCONTREI MINHAS ORIGENS
Encontrei minhas origens
em velhos arquivos
....... livros
encontrei
em malditos objetos
troncos e grilhetas
encontrei minhas origens
no leste
no mar em imundos tumbeiros
encontrei
em doces palavras
...... cantos
em furiosos tambores
....... ritos
encontrei minhas origens
na cor de minha pele
nos lanhos de minha alma
em mim
em minha gente escura
em meus heróis altivos
encontrei
encontrei-as enfim
me encontrei